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Falar em cura do Autismo é o mesmo que falar de cura gay

Claudia Silva Jacobs

25/10/2017 07h54

Não procure pela cura, procure melhorar a vida do portador do espectro (foto: Getty Images)

Não se deixe iludir, essa é a principal lição que você precisa aprender quando o assunto é Autismo. Falar em cura do Autismo é o mesmo que falar de cura gay.  Primeiro, porque até hoje não se tem conclusões em torno do espectro e, em relação a ser gay, bem, isso não é doença.

Então, guardadas as devidas proporções, dois absurdos que só iludem famílias, engordam os bolsos de charlatões e criam falsas ilusões. Você precisa buscar tratamentos e terapias que ajudem a melhorar a qualidade de vida dos portadores do espectro. Isso é possível e muito eficiente. No mais, é aceitação e briga por inclusão.

E nessa batalha diária me junto a milhares de pessoas que lutam para quebrar barreiras, defender direitos e exigir do poder público mais dignidade e espaço para os deficientes, em geral. Dizer que seu filho deixou de ser autista e agora é só um menino "tímido, um nerd esquisito", não ajuda nem a ele e nem a causa. Hoje, precisamos é levar as questões de frente e buscar alternativas e melhorias.

Dietas radicais e tratamentos alérgicos

Eu entendo bem o desespero de muitos pais. Em uma sociedade cruel e nada inclusiva, tentar garantir que seus filhos sejam o mais "normal" possível é uma missão de amor, de tentar fazer com que a vida deles seja menos difícil. Só que, na verdade, os jovens continuam dentro do espectro, lutando internamente, e muitas vezes solitariamente com suas estereotipias e dificuldades em se adaptar às regras sociais. Por isso, esconder ou camuflar não ajuda, só prejudica.

Não se deixe enganar. Até hoje, em nenhuma parte desse planeta se chegou à cura do Autismo. Existem dietas radicais, tratamentos alérgicos, terapias, várias experiências bem sucedidas, mas nada disso significa CURA. Pensar nisso é cair em uma armadilha que muitos se beneficiam, menos os seus entes queridos e os outros portadores do espectro. Lute, batalhe e não aceite cortinas de fumaça. Quanto mais transparente, melhor.

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Sobre o autor

A jornalista Claudia Silva Jacobs atua na profissão há 31 anos, tendo passado pelas redações dos jornais O Globo, Jornal dos Sports e Jornal do Brasil, entre outros. Em 1998, mudou-se para a Europa, onde trabalhou por seis anos na BBC, em Londres. Participou de diversas coberturas e ganhou o prêmio Ayrton Senna de reportagem de rádio com a série Trabalho Infantil no Brasil. O tema inclusão passou a fazer parte do seu dia-a-dia ao descobrir que o filho mais velho Francisco, hoje com 13 anos, era portador do espectro autista. De lá para cá, vem participando de debates, campanhas e escrevendo artigos variados sobre o tema. Está em fase de conclusão do portal cidadaoautista.

Sobre o blog

Um espaço para se discutir a relação com pessoas portadores de deficiências, quebrando pré-conceitos e a falta de informação. Um lugar para se falar de curiosidades, amenidades e formas de convivência que podem ser valiosas para todos.

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